quarta-feira, 2 de junho de 2010

Entrevista - Medo de dirigir?




Entrevista - Medo de dirigir?
Autor: Luciane Brisotto
Data: 16/04/10

Como se caracteriza o Medo de Dirigir, pois sabemos que podem ocorrer desconfortos em algumas situações, mas quando podemos dizer que é medo?

Dirigir nos remete a assumir riscos que são inerentes a este ato, pois, atualmente, o trânsito é associado a situações de violência, como acidentes e assaltos. Também é possível ficar apreensivo ao dirigir quando não se tem certeza de possuir habilidades suficientes para controlar o veículo. Portanto, esta sensação de desconforto, de apreensão, que sentimos ao dirigir pode ser considerada uma forma de adaptação à realidade do trânsito. Sabemos os riscos que estamos assumindo e o medo nos ajuda a estarmos preparados para uma reação de luta ou fuga, priorizando sempre a manutenção da vida e da integridade física.

Podemos utilizar o exemplo de alguém que vai atravessar uma avenida movimentada: se esta pessoa não tiver medo de ser atropelada, provavelmente não irá tomar os cuidados necessários para atravessá-la. Mesmo assim, enfrentamos este desconforto e seguimos em frente, realizando a atividade e, muitas vezes, passamos a sentir cada vez menos apreensão nestas situações. Utilizando novamente o exemplo da avenida movimentada: procuramos atravessá-la em uma faixa de pedestres ou em um ponto em que a visibilidade seja melhor tomando, assim, mais cuidado.

Em alguns casos, porém, podemos encontrar pessoas que sentem um medo que imobiliza, impedindo que elas realizem a atividade que o gerou ou que, ao realizar essa atividade, exista um sofrimento intenso, com prejuízos sociais e ocupacionais. A este medo exagerado e irracional chamamos de fobia. A fobia de dirigir impede que a pessoa dirija, pois o sentimento de medo é desproporcional à situação que o provoca. Chamamos este medo de irracional porque a pessoa não segue uma lógica racional que o sustente.

Tomando o exemplo da pessoa atravessando a avenida movimentada, podemos entender que a pessoa com fobia não atravessaria a rua - por acreditar que não seria capaz de tomar cuidados suficientes para evitar um acidente, ou, ainda, que nenhum cuidado que tomasse seria suficiente para evitar um acidente - ou somente a atravessaria depois de receber a ajuda de alguém, mas, mesmo assim, com muito sofrimento. Podemos concluir, então, que o medo pode se manifestar de várias formas; quando este medo é intenso, entretanto, é caracterizado como fobia e deve ser tratado, sob pena de gerar prejuízos sociais e ocupacionais.

Como surge este medo?

O medo de dirigir pode ter várias origens. Um evento marcante, comumente chamado de trauma, como um acidente ou uma situação difícil que teve que ser enfrentada no trânsito, pode desencadear o medo de dirigir. Algumas pessoas, por serem muito exigentes consigo mesmas, não dirigem porque não conseguem alcançar, no trânsito, o nível de desempenho almejado.

O trânsito é um espaço de convívio social onde as atitudes de um condutor dependem das atitudes de outros. Nem sempre é possível ter o controle das situações. Portanto, se a pessoa tem expectativas muito rígidas em relação ao seu desempenho, poderá ficar muito ansiosa, com medo de frustrar-se e isso pode fazer com que evite dirigir.

As aulas práticas e o exame de direção também podem dar origem ao medo de dirigir, na medida em que os candidatos à habilitação buscam a aprovação do instrutor e do examinador e, quando não a conseguem, passam a ter medo de fracassar em novas tentativas. Este medo é conhecido como ansiedade de desempenho e faz com que muitas pessoas desistam de obter a habilitação, podendo abalar sua auto-estima e a confiança na sua capacidade de dirigir.

Este é um medo característico das cidades maiores?

Sim, o medo de dirigir é mais freqüente entre os habitantes das grandes cidades, já que os riscos são maiores devido ao grande número de veículos e, conseqüentemente, de situações imprevistas.

Quem sofre mais? Homens ou mulheres?

As mulheres são maioria quando se trata de fobia de dirigir. Algumas pesquisas, realizadas por profissionais que trabalham com este público, revelam que 80% das pessoas que procuram tratamento para o medo de dirigir são mulheres. São necessárias novas pesquisas para atualizar estes dados e investigar se o elevado número de mulheres é devido às questões sócio-culturais, que podem estar impedindo os homens de assumirem que sentem medo de dirigir, por esta ser considerada uma atividade tipicamente masculina até alguns anos atrás.

Qual a faixa etária que é mais atingida pelo medo de dirigir?

A maioria das pessoas que buscam tratamento para o medo de dirigir tem entre 30 e 50 anos.

E como se trata este medo?

Existem várias formas de tratamento para a fobia de dirigir. Uma abordagem que tem se mostrado bastante eficaz é a Terapia Cognitivo-Comportamental, que utiliza, além das sessões em consultório, a técnica de Dessensibilização Sistemática ao Vivo, ou seja, o terapêuta acompanha o paciente em exposições ao vivo.

O objetivo é fazer com que a pessoa se dessensibilize, gradativamente, ao enfrentar situações reais no trânsito, acompanhada pelo terapêuta em um veículo.

Para tornar possível a exposição às situações temidas são utilizadas técnicas de relaxamento, através de respiração diafragmática e exercícios de tensão e relaxamento muscular. Também faz parte do tratamento a reestruturação cognitiva, que permite que o paciente identifique seus pensamentos irracionais em relação ao trânsito ou ao ato de dirigir e modifique, ou reestruture, estes pensamentos, tornando-os mais racionais e adaptativos.

Esta forma de psicoterapia é indicada para pessoas habilitadas, que tenham deixado de dirigir ou que nunca tenham dirigido após a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação. Aos que ainda não são habilitados, é possível realizar o trabalho de reestruturação cognitiva em consultório, como preparação para as aulas práticas ou prova prática em Centro de Formação de Condutores.

Entrevista concedida pela Psicóloga Luciane Brisotto ao Psicólogo Jones dos Santos, coordenador da MUSP – Multi Serviços em Psicologia, em out/2008

Fonte:
www.mulheraovolante.com.br

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